era uma vez...

uma princesa que andava de mota e tomava conta da avozinha aos fins de semana. A princesa quando saía de casa da avozinha metia o capacete mal cheiroso devido à chuva que apanhava e acelerava até à confeitaria do costume para tomar o pequeno almoço. Na confeitaria do costume trabalhava o príncipe. O príncipe era um belo jovem com bom porte e um sorriso lindo cheio de personalidade proporcionado pela imperfeição de uns dentes reais. A princesa de cara lavada com o seu ar anémico e cabelo desgrenhado a cheirar a gasolina queimada, pouco sorria, tinha a mania de não querer parecer parva e a certeza que ele era príncipe a mais para ela, para não falar do facto de ser sempre exageradamente cedo na hora. O príncipe sabia o seu pedido, a princesa mesmo que lhe apetecesse qualquer outra coisa não fazia a desfeita ainda que isso limitasse os diálogos ao bom dia e é o do costume, matando assim o diálogo possível entre os apetites e as sugestões.

Entretanto a avó da princesa morreu, ela comprou um carro e descobriu o milagre chamado maquilhagem. O príncipe por sua vez acabou o curso superior, entregou o avental e foi dar aulas para longe, isto no tempo em que os professores ainda eram colocados e a Maria de Lurdes Rodrigues não lhes fazia a vida negra.

Passados cinco anos a princesa, num dia de chuva, frio e vento, ou seja, num dia normal, saiu da lareira e rumou sozinha à fnac para assistir ao lançamento de um livro. Enquanto esperava e fazia de conta que estava concentrada a ler o dito, chegou-lhe a voz que tantas vezes ouviu dizer bom dia, é o do costume? quando olhou não hesitou em fixar as pupilas dilatadas. Era o príncipe, mais gordito mas igual. Ele não reconheceu logo a princesa, olhou rápido e desviou, ao raciocinar apercebeu-se que era ela, embora mais gira e mais magra, disse-lhe olá viva! com o mesmo sorriso que a falta do aparelho, felizmente, manteve, e logo a seguir pregou um beijo apaixonado na rapariga que falava alto com a amiga na mesa ao lado.
Fim.