o meu ex-namorado mandou-me um anúncio de emprego...

das duas uma ou continua a gostar tanto de mim que me quer ver melhor na vida ou então é mais uma forma subtil de me insultar.

sempre fui modesta

Pela educação que tive. A minha mãe sempre nos disse que quem tem não diz que tem, não se queixa mas também não se gaba. Ponto. Não é ser coitadinha, porque isso também nunca nos admitiu, lembro-me do, ai de ti que te queixes, defende-te, se fores atacada, ataca, mas vê bem se vale a pena. Resultou.
E vale também para o aspecto, segundo a minha mãe, é um acessório. Sempre o vi assim, ser bonita é um acessório do qual não podes abusar. O excesso de peso da minha irmã foi sempre meu inimigo. Eu era a soleta, a enjoada porque não comia dois pratos com satisfação. E isto aliado à educação e à forte personalidade de uma mãe de pulso resultou no que sou hoje.
E a adulta em que me tornei é do tipo que, num primeiro encontro não se arranja para deslumbrar. Numa primeira abordagem não é completamente simpática. E que não se gaba, porque não precisa.
Mas hoje é diferente, só hoje (e porque preciso) porque passei toda a tarde a ouvir as pessoas que sempre me conheceram que estava muito gira (e boa).
Sem modéstia diria que sou gira, engraçada, inteligente e esperta, principalmente esperta.

é

ando sem inspiração.
Podia falar sobre a prima que de resignada passou a presumida. Da primeira amiga a entrar nos trinta e da outra que vai casar, e que ainda ontem, como as crianças, saltei para cima quando entrou na porta, para que sentisse o meu entusiasmo. Pesado.
Podia dizer que me inscrevi no site dos livros no sapo e é uma seca.
Que o curso começou, finalmente, o professor é um dinossauro surdo. A casa-de-banho impossível de descrever. Há colegas para todos os gostos com sotaques para todos os gostos. Que só dois são giros e que ao meu lado, ao lado do lugar que escolhi, segunda fila junto à janela, se sentou uma rapariga(?) moça(?) senhora (?) com tiques nervosos e que, decididamente, o sábado não é o seu dia de limpeza pessoal. E que o friozinho na barriga, por voltar a estudar depois de tanto tempo, estava lá. E soube bem.
Que a agenda nunca esteve tão preenchida e a vontade, antes de ir, não é nenhuma.
Que me aquece o coração ler que sabem que estamos aqui, exactamente o que sinto e o descanso que é.
E podia acrescentar um desinteressante mas realista, vai-se andando. Mas, hoje, estou cansada e amanhã é dia de festa.

Não é sonhar alto

A minha vida aguentava perfeitamente um ataque de piratas.

Mais uma vez

desiludiu-me o gótico que encontro no supermercado ao sábado. Desta foi o pacote de bolachas de chocolate que, enternecidamente, transportava no cesto com rodinhas.

porque a vida é minha

troco as dores de alma pelas do corpo
os livros românticos pelo enjoativo Lolita
as lágrimas pelos sorrisos forçados
as lembranças do passado por projectos futuros

sento-me e espero.

um dia será o dia

Estou incumbida de organizar uma despedida de solteira. Assim que fui convocada despertei o interesse e revelei a vontade de fazer uma coisa única. Experiência nunca antes vivida, tanto pela futura ex-solteira como por mim. Quase nervosa a antever a reacção, revelei o meu gosto por um reles streaptise. Até então, e na hora das despedidas anteriores, todas as convertidas em casadas e consequentes convidadas foram de uma elegância e classe exímia que deixou de parte qualquer manifestação de agrado ou vontade por uma coisa desta dimensão.
Já estava a imaginar, uma coisa bem vulgar, uma pele oleada com aroma foleiro, um corpo completamente desinteressante pela falta de defeitos. Um ar másculo mal disfarçado. Uma farda, sem dúvida uma farda. E no fim um horripilento fio dental que revelaria uma depilação total a laser.
Antes, apoderei-me do direito de escolher e oferecer a camisa para a noite de núpcias. Uma coisa bonita, elegante. Sensual e sexy, muito sexy. Consegui espantar a vontade da noiva. Menina do meu coração e com um gosto acentuadíssimo por coisas fofas e queridas e pijamas e borboletas e tal.
Começou a fazer sentido um plano B quando recebo a noticia que, para além de todas as amigas, foi mais ao menos isto - gostava muito que a minha mãe e primas também estivessem presentes.
Pela quantidade (pouca) de pessoas foi eliminado um dos desportos que praticava no ginásio, um dos preferidos. Já não me cansava a explicar às pessoas o que era. Era meu.
Recebi a noticia por sms no dia a seguir a ter-me baldado. Dizia, acabou, e foi como um amor que partiu, que nos dá a desculpa mais esfarrapada e que custa a aceitar.
Tínhamos cumplicidade. Sem quase nunca lhe falar ele percebia-me e perguntava-me o que tinha quando tentava disfarçar o melhor que conseguia. Passava-me as mãos nas costas, dizia-me que tinha desequilíbrios e bloqueios. Que era especial, que tinha um coração grande porque as costelas do lado direito são mais salientes. Colocava-me em posição quase sem o sentir. Dizia pouco mas fazia-o bem, principalmente à alma. Deixava-me optimista, a acreditar que somos mais do que corpo.

humanamente vulnerável

Por vezes as coisas acontecem para que se possa dizer aquele foi o meu erro.
E depois repetir, ou não, depende da resistência de cada um.

O fixo sem fios acabou com a tradição

Todos os anos usávamos a mesma partida cá em casa. A pessoa que estava mais longe do telefone era chamada para vir atender rápido, depois era o que imaginam.