Aconchega-me quereres vingar-me.

Sabes… foi como te disse, o coração voltou à arritmia, saltou disparado e o nó apertou. Isto de pontapear o morto não me satisfaz. O morto quando parte, ou quando admitimos que sustentar-se com respiração artificial não é forma de viver, leva o nosso coração, cabeça, e tudo o que nos faz falta para continuar sem ser em piloto automático, e depois do choque e da raiva e de perguntar o porquê e de querer que cada lágrima seja recompensada e sentida pelo morto, vem o luto. O luto é de cada um. O meu luto é só meu. Nem eu sei pôr em palavras o que preciso para enterrar o morto. Os sentimentos é que vão dando dicas sobre a melhor forma de o fazer. Pontapear quem já está de olhos fechados para nós não é a minha forma, nem chega esperar por um último suspiro, porque vai ser o último na mesma, nem nunca lhe vai doer como me doeu a mim, porque as minhas dores são só minhas. Pontapear o morto só vai trazer mais dores e o meu luto passa por cicatrizar as feridas para aliviar as dores. E enterrar.


Podemos ter toda a família, todos os amigos, todos os grupos, a gostar de nós pelo que somos, mas existem momentos em que uma pessoa que não conhecemos e da qual gostamos só porque sim faz a diferença e ajuda cicatrizar mais um pouco.